Avaliamos a grande estrela da Mercedes-Benz que faz quase tudo sozinho




Na estrada, ele chama atenção. Da cabina, você pode ver os outros caminhões por um ângulo um pouco mais solene: por cima. A versão completona que avaliamos do Actros 2646 LS 6×4 tem 3,483 metros de altura. São quatro degraus para se acomodar lá em cima, no cockpit do motorista. E o termo se acomodar é levado a sério: Sentado a um banco que poderia ser chamado de poltrona, tudo se ajusta para propiciar uma condução perfeita.
É um caminhão top de linha. A própria Mercedes-Benz o recomenda a transportadores “altamente profissionalizados, que focam a produtividade e valorizam a tecnologia, conforto, segurança e potência, além da economia de combustível”.
A faixa de preço, por volta de R$ 500.000,00, também posiciona este produto especificamente para grandes empresas de transporte. Por um pouco mais da metade deste valor é até possível comprar um pesadão que faça o mesmo serviço, mas que está a anos-luz de oferecer os mesmos recursos.
É, sem dúvida, um veículo para quem precisa oferecer muito mais do que simplesmente transportar mercadorias de um ponto a outro. E há aí um nicho de mercado que todas as fabricantes nacionais estão de olho.
Para o transportador que quer prestar serviços a grandes empresas geradoras de carga itens como mais segurança, mais eficiência, mais conforto e, acima de tudo, rentabilidade, são considerados. E, para atender a estas demandas, não dá para economizar em tecnologia.
O Actros, que ainda é importado, mas ano que vem começa a ser produzido no Brasil na fábrica que a Mercedes-Benz já tem em Juíz de Fora/MG, encontra seus concorrentes diretos em modelos oferecidos pela Iveco, Scania e Volvo. Já anunciado, ano que vem chegam também os modelos top da MAN e vai ser, por certo, briga de gigantes.
Grosso modo, estão todos no mesmo patamar, tanto quando se fala de preço quanto de tecnologia, mas é ao volante que se pode detectar algumas distinções e vantagens. Nesta nossa primeira avaliação, embora conheçamos os concorrentes diretos, não faremos comparações.
Outro ponto que julgamos não ser sensato aferir é o consumo. As variantes são tantas que não vale a pena apurar. Tudo pode interferir: o jeito de conduzir, a temperatura, as intempéries, a topografia, condições da estrada, de tráfego, etc. Definitivamente, qualquer medição de consumo feita é suspeita e sujeita a contestações. Portanto, deixamos de fora.
Um pesadão com um motor com 456 cavalos de potência e mais de 40 toneladas nas costas pode fazer desde 1,5 até quase 3 quilômetros com um litro de diesel. Tudo vai depender dos fatores acima.
O câmbio automatizado do Actros leva a marca Mercedes-Benz, MB G 330-12 – a última dezena indica que há uma dúzia de velocidades disponíveis. As últimas são bem mais longas, ideais para velocidade de cruzeiro. Além da comodidade para o motorista, pode apostar, a tocada fica bem mais econômica.
Item que chama atenção logo de cara nesta nave da Mercedes-Benz é o botão no painel que impede que o caminhão dê aquela indesejável volta para trás em rampas. Acionado, você tira o pé do freio e pisa tranquilamente no acelerador botando o caminhão em movimento. Para motoristas desatentos isso não é luxo, é segurança.
Avaliamos o Actros com uma composição bitrem da Noma com lastro de 44 toneladas. E traçamos um roteiro onde foi possível fazer uso dos recursos, muitos aliás, do caminhão. Pegamos a rodovia Anchieta no Km 15, rumo a Santos/SP, descemos a Serra do Mar e, já na Baixada, seguimos pela Via Expresso Sul (antiga Rodovia Pedro Taques) até o município de Itanhaém, num trajeto total, ida e volta, de 320 quilômetros.
Na larga e segura Anchieta avaliamos à exaustão o piloto automático e o sensor de presença que fica posicionado bem no meio do parachoque dianteiro. Com um toque sutil na alavanca direita (onde se pode controlar diversas outras funções do caminhão) o piloto automático é acionado. O display no painel indica que está ativado e você pode escolher, também tocando um botão da alavanca direita, que velocidade quer que o caminhão siga, e se mantenha, durante parte do trajeto.
Funciona bem e as informações que aparecem no display são claras e amigáveis. O sensor de presença pode ser ajustado para qual distância do veículo da frente você prefere manter por considerar segura. Testamos com dez, vinte e trinta metros. Funcionou perfeitamente.
Resolvemos, com distância ajustada de apenas dez metros, acelerar o caminhão a 80 km/h na terceira faixa e depois voltar para a faixa da direita logo atrás de um Uno que certamente trafegava a uns 60 km/h. Nesta situação, sem que tocássemos no freio, o sensor freou o caminhão e instantaneamente o botou na mesma velocidade do Uno (respeitando a distância estipulada).
Tudo tão rápido, e eficiente, que nem deu tempo para o motorista do Uno se assustar com o caminhão gigante crescendo em seu retrovisor. A dez metros a composição toda respeitou a velocidade do pequeno carro à frente e não fez aquela aproximação ameaçadora, muito comum, aliás, nas estradas brasileiras. Tudo isto, é preciso destacar, sem que o motorista precisasse fazer nada além de tão somente tomar conta do volante.
Para mudar de faixa, caso se esqueça de dar a seta indicando a manobra, um sensor dá o alerta sonoro. Um tanto escandaloso, eu diria. É uma precaução técnica para o caso de algum cochilo, mas funciona bem como educador de trânsito também.
Com piloto automático, sensor de aproximação, sensor que adverte mudança de faixa sem sinalização, sensor que aciona o parabrisa em caso de chuva e liga automaticamente os faróis, sensor que mantém a cabina climatizada com o caminhão desligado, cabina com piso plano, câmbio automatizado e computador de bordo, o Actros surpreende e foge, tecnicamente, do lugar-comum.
Todo mimo tecnológico tem suas funções ligadas à segurança e à comodidade, mas essencialmente permite que o condutor se atenha à sua tarefa primordial: concentração total no ato de dirigir.
Neste ato, mais do que acelerar, que ganhar tempo, é fundamental que o caminhão consiga diminuir a velocidade com eficiência, e melhor ainda se o fizer poupando os discos de freio.
Se o caso exigir freadas emergenciais, os freios ABS e o sistema ASR (controle de tração das rodas) conseguem estancar a composição inteira (vá lá, bom motorista também chama a alavanca de freio da carreta em condições extremas de frenagem).
Mas, em situações normais, como a descida da Serra do Mar, não carece utilização do disco de freio, nem tocamos no pedal, a composição toda vai sendo controlada, ladeira abaixo, pelo freio-motor Top Brake no primeiro estágio da alavanca direita (aquela que faz quase tudo) e, para segurar ainda mais, basta baixar mais um estágio da mesma alavanca que o retardador da Voith entra em ação colocando uma cavalaria de força contrária.

Fonte: http://www.brasilcaminhoneiro.com.br


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